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O brasileiro, a esperteza, Canarinhos e os otários

O Brasileiro é o bicho mais esperto do mundo.

Mas, quando todo mundo é malandro, quem é o otário?

Uma coisa é gostar de chegar cedo para os eventos. Outra coisa é dormir na fila para conseguir ingresso para ver a Seleção Brasileira jogar, sendo que o horário marcado para o atendimento seria a 10 horas do dia SEGUINTE.

Daí, quando chega esse dia, as mesmas pessoas que estavam desde cedo na fila se revelam cambistas, querendo lucrar com o que não é seu.

E se não são cambistas, fazem a fila crescer da frente para trás, contrariando qualquer definição correta de fila, ao fazer qualquer pessoa vagamente conhecida adentrar na fila por qualquer lugar menos onde ela deveria, que é o seu final.

Mas o que o brasileiro não entende é que, se todos chegarem na hora marcada, respeitarem a fila e fizerem as coisas do jeito que devem ser feitas, a coisa FUNCIONA. E aí, quando vocẽ chegar e ver uma fila com 2 mil pessoas, você não precisará desistir faltando 4 horas para o fim do prazo de atendimento, porque saberá que, todos seguindo as regras e gastando-se menos de 20 segundos para entregar o ingresso para o cliente, é possível que todos recebam seus ingressos.

E não vai ser preciso levar garrafões de água, nem banquinhos, nem vender SENHA, nem vender CUPOM FISCAL, nem vender ALIMENTO na fila.

Nem ficar o dia todo na fila para vender algo que lhe foi dado.

Quando todos são malandros, quem é o otário?

PS.: Sim, eu consegui meu ingresso. Sim, a foto é do meu lindo, maravilhoso ingresso.
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Ninguém encosta no Caveira.

"O BOPE virou uma máquina de guerra".
Quando o filme nacional que era pra ser o maior e mais famoso entre eles não alcança sucesso devido à pirataria, o que o diretor faz?

Ele faz um melhor ainda.

Esse é José Padilha, diretor e idealizador de Tropa de Elite, um dos poucos filmes nacionais que não apelam em fazer o bandido o cara bonzinho e a polícia os malvados fardados que matam inocentes. Ele fala a verdade. E se às vezes a verdade parece ser isso mesmo, ele mostra que aquilo que parece, geralmente não é.

Quinze anos depois dos eventos do primeiro filme, temos um elenco muito maduro. Um (agora) Coronel Nascimento encarando responsabilidades que nenhum outro caveira encarou; um (Capitão) Mathias que não nega quem o treinou (nem nega sangue ou headshot pra geral). Uma família Nascimento desestruturada.

"Pai, porque seu trabalho é matar?"

Nascimento encara sua missão mais difícil. Ele transforma um BOPE que só tinha uma viatura em uma máquina de guerra com 16 unidades táticas com 360 homens, blindado e helicóptero. Helicóptero muita gente tem, mas blindado e 7.62 para lutar contra o tráfico, só no Brasil. "E a SWAT?". Eles usam 9mm, 5.56, e nada de blindado, parceiro.

"Eu quebrei o tráfico no Rio de Janeiro".

Wagner Moura disse em uma entrevista que esse filme era muito melhor que o outro porque os personagens se desenvolveram mais, se tornaram mais complexos. Nada de personagem plano aqui; nada é o que parece ser. Se antes nossos Caveiras já tinham várias camadas, agora eles são tão complexos e tem tantos problemas pessoais e profissionais que eles, como nós, muitas vezes nem se entendem.

"Para alguns, a guerra é a cura. Pra mim parceiro, sempre foi assim."

Um filme sobre segurança pública deve fazer mais do que simplesmente mostrar bandido e polícia trocando tiros. Um filme de segurança pública deve mostrar porque, em primeiro lugar, esses caras estão trocando tiros. Tropa de Elite 2 vai além do que seu antecessor fez com maestria, vai além de mostrar os bastidores da tropa, vai além de mostrar que a violência vem da violência. Tropa 2 vai é na raiz, vai no fundo do sistema mostrar que a violência é lucrativa, dá voto, e é auto-sustentável. E sustenta muito mais gente do que parece. E continua mostrando que nós sustentamos a violência, sem nem perceber.

Quando um filme consegue fazer com que você fique grudado na cadeira, sentindo sensações tão diversas quanto ódio, frustração, vontade de entrar dentro da tela e "largar o aço", tristeza e empatia por personagens dos mais diferentes, você sabe que está assistindo uma obra que não é apenas mais um filmezinho nacional financiado pelo governo. Tropa 2 é um projeto audacioso, realista até o último detalhe. E prima por te fazer sair do cinema se sentindo como seus personagens, num misto de ódio, frustração, dor (Racionais MCs foi citado aqui, sem querer querendo) e vontade de sair "sentando o dedo" em muito marginal por aí. Mas ao mesmo tempo, Tropa faz o que seu antecessor não fez: mostra que isso não resolve nada. Mostra que matar marginal, colocar na cadeia, etc e tal, não vai resolver os problemas. Porque os problemas estão mais em cima. Porque "o inimigo agora é outro".

Quem faz a violência e lucra com a violência não é só vagabundo. É gente inteligente, gente que se elege deputado, policial safado e muitos outros que achamos que estão ali para nos proteger. O sistema luta contra o próprio sistema. Uma cobra alimenta a outra. A segurança pública fica nas mãos e a cargo de quem lucra com a insegurança. Política é negócio.

Paz é piadinha. Isso não existe. Caveira não está ali pra manter a paz. Político nenhum tem interesse na paz. Paz não dá voto. Todo mundo quer paz e segurança, mas se esse mundo mágico é realizado, quem vai lembrar dos caras que tornaram isso realidade? É melhor ter violência, porque aí quando ocorre uma operação (quem se importa se foi necessária ou não) todos ficam sabendo e aprovam os políticos que a organizaram e os policiais que a executaram. E isso sim dá voto. É aquela velha história: o bandido, se parar de "trabalhar", tira emprego de muita gente.

Isso quando a polícia não percebe que, sem os intermediários, dá pra lucrar muito mais. Segurança é um negócio tenso: todo mundo quer se sentir seguro, todo mundo está disposto a pagar um certo preço por isso. E aí?

"Tenho 21 anos de polícia e não sei dizer porquê matei, por quem matei, quantos matei."

E eu ainda nem falei sobre a qualidade técnica do filme. Dizer que é ultra-realista, muito bem filmado, com excelente fotografia, com atores extremamente capazes e bem preparados, dizer que o filme usou o próprio caveirão (blindado do BOPE - usaram o de verdade), com o motorista de verdade, que usaram helicóptero da polícia (da polícia Civil, mas da polícia), que 90% dos policiais mostrados no filme são policiais de verdade... dizer tudo isso seria clichê, ainda que seja tudo verdade.

Tropa 2 é um filme excelente sem levar em consideração o roteiro.

Mas e com o roteiro? E com a história? Quando esses dois elementos entram na equação, Tropa 2 deixa de ser um filme de ação e se torna uma prima obra documental, de um diretor praticamente iniciante (e que parece ignorar isso).

Exagerando, eu?

Assista e me diga você. Me diga o que você sentiu quando saiu da sala de cinema. Me diga você, como foi tomar o mais delicioso soco no estômago, como foi sair de uma sala sem saber o que dizer, sem saber o que fazer, revoltado.

Depois de 2 meses sem escrever pro Folha, sabia que não poderia deixar de falar de Tropa 2. Porque Tropa 2 não é apenas um filme. Dizer isso é desmerecer o trabalho de centenas de excelentes profissionais. Tropa 2 é um recado. É um alerta, é uma mensagem que vai levantar muita discussão sobre segurança.

E quando essa mensagem for entendida, assim como no filme, tudo vai mudar. E tudo vai permanecer exatamente a mesma coisa.


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Bruno e Rafael Mascarenhas: na justiça, não tem promoção



Bruno. Acho que não preciso falar do goleiro. Uma história toda meio forçada (e que sofre mais atualizações que Twitter), ausência de corpo, eficiência tradicional do conjunto polícia-poder judiciário... Arrisco dizer que, se esse, (como todo caso de homícidio) não fosse a jurí popular, eu apostaria que o arqueiro seria inocentado. Mas júri popular tende a deixar as coisas mais interessantes (interessantes no aspecto pressão popular).

Pois é. Mas o caso de Bruno é muito chato, ainda que apresente inúmeras perspectivas de trabalho. Vamos ao outro.

R. Mascarenhas. Não quero falar das coisas óbvias, como, por exemplo, que esse caso também é exemplar da honestidade a prova de balas – mas não de notas de 100 – da polícia brasileira, ou que não dá para saber como Cissa Guimarães se sente (perder um filho é A situação mais estressante que o ser humano pode ter – pesquisa científica, se quiser saber a fonte, google pra você, amor, que eu não me lembro mais), ou mesmo da irresponsabilidade dos motoristas que estavam tirando um racha.

Eu quero te perguntar o seguinte... E se fosse você?

Se fosse você, acha mesmo que sairia em rede nacional? Se fosse você, acha que alguém ficaria sabendo? Se fosse você, os PMs teriam aceitado os mil reais mesmo, ficando nisso, o carro teria sido consertado, o motorista playboy e seu amigo (também playboy) continuariam por aí, tirando rachas (puta que pariu, tirar racha com um Siena... é o fim, até nisso brasileiro improvisa)... E o mundo continuaria girando, os políticos continuariam tentando mandar, a polícia continuaria a ignorar tudo e a vida seguiria. No meio termo, temeríamos a polícia tanto quanto tememos bandidos, afinal, quantos outros casos como o de R. Mascarenhas aconteceram no Brasil e ninguém ficou sabendo?

Ou você chegou a ver algum outro atropelamento que envolveu reconstituição do crime? Na esteira do caso, um outro atropelamento (não me lembro dos detalhes do caso) virou notícia. E SÓ virou notícia por causa de R. Mascarenhas.

Qual o ponto desse artigo, afinal?  Talvez não tenha ponto, porque não adianta querer pensar que esse texto vai mudar alguma coisa. Os famosos continuarão tendo preferência em qualquer assunto, recursos públicos serão gastos em abundância cinematográfica para aguentar a pressão da imprensa em casos que envolvem os ricos, e, enquanto isso, o mundo continuará girando para nós, assistindo notícias de assassinatos que nunca mais serão mencionados novamente, que provavelmente não terão solução, porque os PMs que poderiam estar no caso estavam ocupados fazendo reconstituição do crime de algum outro rico&famoso. Ou ninguém se lembra do caso Tim Lopes?

Esse é o Brasil. Esse continuará sendo o Brasil? 

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Politicamente (in)Correto

Não que eu tenha ficado sem escrever aqui de propósito. Quer dizer, claro que foi, afinal, ninguém colocou uma arma na minha cabeça e mandou eu parar de escrever. Mas, entre final de ano passado, começo desse ano, vestibular, faculdade... minha vida acelerou mais do que eu previa. E acabei ficando sem tempo para ser politicamente incorreto aqui no Folha. Mas, estou de volta, de volta ao Folha Intermediária. Vamos lá?

***

Mais um dia normal. Um sábado normal. Um sábado normal significa poder finalmente relaxar com uma boa companhia. E, nesse sábado em especial, utilizei o nosso meio de transporte favorito para ir até a casa da minha namorada... O ônibus. 

Ops. Divago.

Primeiro, um pouco de contexo. Hoje, século XXI, as pessoas estão na busca da aceitação. Compreensão, entendimento... esse "movimento" começou após a segunda guerra mundial. O mundo se viu diante do maior genocídio já registrado, motivado por intolerância. Assim, surgia a ONU, a declaração dos direitos humanos. Anos mais tarde, na década de 60, a liberação femina; depois, o boom do homossexualismo em 80. No meio termo, rock'n'roll.

E daí, tio? E daí que surgiram termos com o"consciência social", "sustentabilidade", e o mal fadado, "polticamente correto".

Ah, o politicamente correto.

Ser politicamente correto é ser adequado nas situações de convivência social. É jogar lixo no lixo, reciclar aquilo que precise ser reciclado, andar na calçada, não fumar, não beber, não fazer sexo sem camisinha. Ser politicamente correto é ser meio chato mesmo. Mas também é importante; evita conflitos. Evitar conflitos é o que hoje em dia (quase) todos queremos.

Mas quando ser politicamente correto se torna politicamente incorreto? Existem momentos da sua vida em que você simplesmente quer mandar tudo pro alto, virar para alguém e mandar esse alguém ir tomar no ** quando ele te sacaneia. Ser politicamente incorreto é broxante, te desestimula a ser honesto. Tudo tem que ser maquiado, aliviado, para parecer mais aceitável. Não podemos machucar ninguém; fazemos rodeios para dizer o que queremos. Ficamos frustrados, não conseguimos aquilo que gostaríamos de conseguir. Perdemos a coragem de sermos ousados. Deixamos de buscar novas coisas com medo de que aquilo desagrade alguém.

Ou seja, hoje, tinha essa garota no ônibus. Eu estava escutando música e como bom cidadão politicamente correto, usando meus fones de ouvido. Assim, usando essa invenção tão nova, que acompanha todo celular que tem o recurso de executar arquivos mp3, eu posso escutar música como se ela estivesse bem alta, e ainda sim, não incomodar ninguém! Que fantástico mundo novo!

Mas ah, essa garota... a garota colocou uma faixa da Avril Lavigne tocando bem alto. Tão alto, que me chegou a atrapalhar-me a escutar a minha música, no fone de ouvido! Não era então, um sonzinho baixo. Aí, alguém se lembra de alguns anos atrás, talvez uns 10, quando todo ônibus em Goiânia tocava rádio? Especialmente os da Araguaia, sempre tocavam a rádio, bem... Araguaia. Enfim. Hoje nenhum ônibus mais tem som. Porque vocês acham? Politicamente correto: ninguém precisa ouvir algo se não quiser. Se quiser escutar música, use seu próprio mp3 e escute aquilo que quiser. Mas não essa garota. Não essa garota acompanhada por um outro garoto, esse bem grande, uns 1,90m de altura. Como todo cidadão politicamente correto, eu não falei nada. Provavelmente, por causa do acompanhante dela. Mas aquilo me irritou profundamente. Não é a primeira vez que isso acontece. E nem é só comigo, ou é? Não são só essas coisinhas que te irritam, mas te silenciam, durante o seu dia-a-dia. Então, qual é o limite entre ser politicamente correto e verdadeiro, honesto consigo mesmo e com as outras pessoas? Ninguém falou um “a”; eu gostaria de ter mandado ela enfiar o péssimo gosto musical dela em outro lugar, não nos meus ouvidos, que já são maltrados o suficiente. 

Mas, o que se pode fazer? Hoje, a moda é ser politicamente correto. E estressado, irritado, sem válvula de escape, aceitando o que a gente vê por aí para não ser mal educado. Afinal, reclamar também pode ser politicamente incorreto. 

PS.: Ler o Folha Intermediária é desaconselhado. *psiu, é politicamente incorreto!*

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Cadeiras solitariamente acompanhadas

A manhã no campo. O aroma suave da relva umedecida pela garoa da noite anterior. O cheiro de café feito na hora. O cantar do galo. Duas cadeiras, uma do lado da outra, esperando seus donos.


Foi assim por muitos, muitos anos. Quem sabe contar, contaria uns 30. Sim, muitos anos, ainda mais se levarmos em consideração como as coisas são passageiras. Um ritual matutino que dura 30 anos é algo a ser celebrado.

E foi, diversas vezes. Celebrações animadas, festas e pessoas, muitas pessoas. No entanto, essas ocasiões eram passageiras. As cadeiras, no entanto, não eram. Até aquele dia.

Naquele dia, o café atrasou. Naquele dia, o galo cantou na hora, apenas para trazer as más notícias. Quando o galo cantava, o café já estava na mesa, a manteiga no pratinho e o pão, quentinho. O leite, na garrafa. Naquele dia, o café estava frio: era o de ontem. Naquele dia, a manteiga estava na geladeira, o leite ainda não havia sido tirado da vaca e o pão, estava duro como pedra. Naquele dia, tudo mudou.

Naquele dia uma senhora viu seu companheiro se levantar primeiro, como todos os dias. Mas ela ouviu o que nunca havia ouvido antes: um estrondo forte, como se algo tivesse caído. Ele caiu, da escada. Caiu segurando o braço. Não gritou, não houve tempo.

O galo cantou.

O médico disse que foi fulminante o infarto, ele não sofreu muito. Um observador inocente diria que a queda deveria ter doído muito mais. A senhora, não se importava se fora dolorido. Só pensava que seu companheiro não estaria mais ali todos os dias. Qual o motivo então para fazer o café? Qual o motivo de tirar a manteiga da geladeira, se o pão quentinho não chegaria a cavalo da padaria do vilarejo? Se o leite não seria tirado da vaca pelas hábeis mãos de seu marido? Para quê toda aquela extensão de terra, toda aquela plantação, toda aquela relva, se não havia ninguém para compartilhar a beleza e a suavidade do aroma de relva molhada todas as manhãs?

As filhas a levaram para a cidade. Deram-lhe um apartamento. Um bom apartamento, grande, para que ela não sentisse falta de nada. Mas é claro que ela sentia. Sentia falta de um homem que às vezes era rude, mas era sempre presente. Um homem que, diferentemente dos outros que se casaram com suas irmãs, ajudou-a a criar suas filhas e seus filhos com dignidade, para serem pessoas de bem, e bem sucedidas.

Aquele homem faria muita falta: não havia apartamento algum que substituiria a sua companhia – especialmente a matinal, a primeira do dia.


Por isso, todos os dias, a última coisa que fazia era descer de elevador, até a área da piscina. Lá, encontrava duas cadeiras. As colocava lado a lado. Sentava em uma, esperando. Diferentemente dos “bons velhos tempos”, essa não era a primeira coisa que ela fazia no dia. Era a última. Porque a esperança é a última que morre. Aquelas cadeiras organizadas eram a esperança daquela velha senhora, de um dia ter seu velho companheiro sentando ao seu lado, para, se não um café, ter um jantar iluminado pela luz da lua.

Dedicado à misteriosa senhora das cadeiras. 


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