O brasileiro, a esperteza, Canarinhos e os otários
Mas, quando todo mundo é malandro, quem é o otário?
Uma coisa é gostar de chegar cedo para os eventos. Outra coisa é dormir na fila para conseguir ingresso para ver a Seleção Brasileira jogar, sendo que o horário marcado para o atendimento seria a 10 horas do dia SEGUINTE.
Daí, quando chega esse dia, as mesmas pessoas que estavam desde cedo na fila se revelam cambistas, querendo lucrar com o que não é seu.
E se não são cambistas, fazem a fila crescer da frente para trás, contrariando qualquer definição correta de fila, ao fazer qualquer pessoa vagamente conhecida adentrar na fila por qualquer lugar menos onde ela deveria, que é o seu final.
Mas o que o brasileiro não entende é que, se todos chegarem na hora marcada, respeitarem a fila e fizerem as coisas do jeito que devem ser feitas, a coisa FUNCIONA. E aí, quando vocẽ chegar e ver uma fila com 2 mil pessoas, você não precisará desistir faltando 4 horas para o fim do prazo de atendimento, porque saberá que, todos seguindo as regras e gastando-se menos de 20 segundos para entregar o ingresso para o cliente, é possível que todos recebam seus ingressos.
E não vai ser preciso levar garrafões de água, nem banquinhos, nem vender SENHA, nem vender CUPOM FISCAL, nem vender ALIMENTO na fila.
Nem ficar o dia todo na fila para vender algo que lhe foi dado.
Quando todos são malandros, quem é o otário?
PS.: Sim, eu consegui meu ingresso. Sim, a foto é do meu lindo, maravilhoso ingresso.
Bruno e Rafael Mascarenhas: na justiça, não tem promoção
Bruno. Acho que não preciso falar do goleiro. Uma história toda meio forçada (e que sofre mais atualizações que Twitter), ausência de corpo, eficiência tradicional do conjunto polícia-poder judiciário... Arrisco dizer que, se esse, (como todo caso de homícidio) não fosse a jurí popular, eu apostaria que o arqueiro seria inocentado. Mas júri popular tende a deixar as coisas mais interessantes (interessantes no aspecto pressão popular).
Pois é. Mas o caso de Bruno é muito chato, ainda que apresente inúmeras perspectivas de trabalho. Vamos ao outro.
R. Mascarenhas. Não quero falar das coisas óbvias, como, por exemplo, que esse caso também é exemplar da honestidade a prova de balas – mas não de notas de 100 – da polícia brasileira, ou que não dá para saber como Cissa Guimarães se sente (perder um filho é A situação mais estressante que o ser humano pode ter – pesquisa científica, se quiser saber a fonte, google pra você, amor, que eu não me lembro mais), ou mesmo da irresponsabilidade dos motoristas que estavam tirando um racha.
Eu quero te perguntar o seguinte... E se fosse você?
Se fosse você, acha mesmo que sairia em rede nacional? Se fosse você, acha que alguém ficaria sabendo? Se fosse você, os PMs teriam aceitado os mil reais mesmo, ficando nisso, o carro teria sido consertado, o motorista playboy e seu amigo (também playboy) continuariam por aí, tirando rachas (puta que pariu, tirar racha com um Siena... é o fim, até nisso brasileiro improvisa)... E o mundo continuaria girando, os políticos continuariam tentando mandar, a polícia continuaria a ignorar tudo e a vida seguiria. No meio termo, temeríamos a polícia tanto quanto tememos bandidos, afinal, quantos outros casos como o de R. Mascarenhas aconteceram no Brasil e ninguém ficou sabendo?
Ou você chegou a ver algum outro atropelamento que envolveu reconstituição do crime? Na esteira do caso, um outro atropelamento (não me lembro dos detalhes do caso) virou notícia. E SÓ virou notícia por causa de R. Mascarenhas.
Qual o ponto desse artigo, afinal? Talvez não tenha ponto, porque não adianta querer pensar que esse texto vai mudar alguma coisa. Os famosos continuarão tendo preferência em qualquer assunto, recursos públicos serão gastos em abundância cinematográfica para aguentar a pressão da imprensa em casos que envolvem os ricos, e, enquanto isso, o mundo continuará girando para nós, assistindo notícias de assassinatos que nunca mais serão mencionados novamente, que provavelmente não terão solução, porque os PMs que poderiam estar no caso estavam ocupados fazendo reconstituição do crime de algum outro rico&famoso. Ou ninguém se lembra do caso Tim Lopes?
Esse é o Brasil. Esse continuará sendo o Brasil?
Politicamente (in)Correto
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Mais um dia normal. Um sábado normal. Um sábado normal significa poder finalmente relaxar com uma boa companhia. E, nesse sábado em especial, utilizei o nosso meio de transporte favorito para ir até a casa da minha namorada... O ônibus.
Ops. Divago.
Primeiro, um pouco de contexo. Hoje, século XXI, as pessoas estão na busca da aceitação. Compreensão, entendimento... esse "movimento" começou após a segunda guerra mundial. O mundo se viu diante do maior genocídio já registrado, motivado por intolerância. Assim, surgia a ONU, a declaração dos direitos humanos. Anos mais tarde, na década de 60, a liberação femina; depois, o boom do homossexualismo em 80. No meio termo, rock'n'roll.E daí, tio? E daí que surgiram termos com o"consciência social", "sustentabilidade", e o mal fadado, "polticamente correto".
Ah, o politicamente correto.
Ser politicamente correto é ser adequado nas situações de convivência social. É jogar lixo no lixo, reciclar aquilo que precise ser reciclado, andar na calçada, não fumar, não beber, não fazer sexo sem camisinha. Ser politicamente correto é ser meio chato mesmo. Mas também é importante; evita conflitos. Evitar conflitos é o que hoje em dia (quase) todos queremos.
Mas quando ser politicamente correto se torna politicamente incorreto? Existem momentos da sua vida em que você simplesmente quer mandar tudo pro alto, virar para alguém e mandar esse alguém ir tomar no ** quando ele te sacaneia. Ser politicamente incorreto é broxante, te desestimula a ser honesto. Tudo tem que ser maquiado, aliviado, para parecer mais aceitável. Não podemos machucar ninguém; fazemos rodeios para dizer o que queremos. Ficamos frustrados, não conseguimos aquilo que gostaríamos de conseguir. Perdemos a coragem de sermos ousados. Deixamos de buscar novas coisas com medo de que aquilo desagrade alguém.
Ou seja, hoje, tinha essa garota no ônibus. Eu estava escutando música e como bom cidadão politicamente correto, usando meus fones de ouvido. Assim, usando essa invenção tão nova, que acompanha todo celular que tem o recurso de executar arquivos mp3, eu posso escutar música como se ela estivesse bem alta, e ainda sim, não incomodar ninguém! Que fantástico mundo novo!
Mas ah, essa garota... a garota colocou uma faixa da Avril Lavigne tocando bem alto. Tão alto, que me chegou a atrapalhar-me a escutar a minha música, no fone de ouvido! Não era então, um sonzinho baixo. Aí, alguém se lembra de alguns anos atrás, talvez uns 10, quando todo ônibus em Goiânia tocava rádio? Especialmente os da Araguaia, sempre tocavam a rádio, bem... Araguaia. Enfim. Hoje nenhum ônibus mais tem som. Porque vocês acham? Politicamente correto: ninguém precisa ouvir algo se não quiser. Se quiser escutar música, use seu próprio mp3 e escute aquilo que quiser. Mas não essa garota. Não essa garota acompanhada por um outro garoto, esse bem grande, uns 1,90m de altura. Como todo cidadão politicamente correto, eu não falei nada. Provavelmente, por causa do acompanhante dela. Mas aquilo me irritou profundamente. Não é a primeira vez que isso acontece. E nem é só comigo, ou é? Não são só essas coisinhas que te irritam, mas te silenciam, durante o seu dia-a-dia. Então, qual é o limite entre ser politicamente correto e verdadeiro, honesto consigo mesmo e com as outras pessoas? Ninguém falou um “a”; eu gostaria de ter mandado ela enfiar o péssimo gosto musical dela em outro lugar, não nos meus ouvidos, que já são maltrados o suficiente.
Mas, o que se pode fazer? Hoje, a moda é ser politicamente correto. E estressado, irritado, sem válvula de escape, aceitando o que a gente vê por aí para não ser mal educado. Afinal, reclamar também pode ser politicamente incorreto.
PS.: Ler o Folha Intermediária é desaconselhado. *psiu, é politicamente incorreto!*
Cadeiras solitariamente acompanhadas
Foi assim por muitos, muitos anos. Quem sabe contar, contaria uns 30. Sim, muitos anos, ainda mais se levarmos em consideração como as coisas são passageiras. Um ritual matutino que dura 30 anos é algo a ser celebrado.
E foi, diversas vezes. Celebrações animadas, festas e pessoas, muitas pessoas. No entanto, essas ocasiões eram passageiras. As cadeiras, no entanto, não eram. Até aquele dia.
Naquele dia, o café atrasou. Naquele dia, o galo cantou na hora, apenas para trazer as más notícias. Quando o galo cantava, o café já estava na mesa, a manteiga no pratinho e o pão, quentinho. O leite, na garrafa. Naquele dia, o café estava frio: era o de ontem. Naquele dia, a manteiga estava na geladeira, o leite ainda não havia sido tirado da vaca e o pão, estava duro como pedra. Naquele dia, tudo mudou.
Naquele dia uma senhora viu seu companheiro se levantar primeiro, como todos os dias. Mas ela ouviu o que nunca havia ouvido antes: um estrondo forte, como se algo tivesse caído. Ele caiu, da escada. Caiu segurando o braço. Não gritou, não houve tempo.
O galo cantou.
O médico disse que foi fulminante o infarto, ele não sofreu muito. Um observador inocente diria que a queda deveria ter doído muito mais. A senhora, não se importava se fora dolorido. Só pensava que seu companheiro não estaria mais ali todos os dias. Qual o motivo então para fazer o café? Qual o motivo de tirar a manteiga da geladeira, se o pão quentinho não chegaria a cavalo da padaria do vilarejo? Se o leite não seria tirado da vaca pelas hábeis mãos de seu marido? Para quê toda aquela extensão de terra, toda aquela plantação, toda aquela relva, se não havia ninguém para compartilhar a beleza e a suavidade do aroma de relva molhada todas as manhãs?
As filhas a levaram para a cidade. Deram-lhe um apartamento. Um bom apartamento, grande, para que ela não sentisse falta de nada. Mas é claro que ela sentia. Sentia falta de um homem que às vezes era rude, mas era sempre presente. Um homem que, diferentemente dos outros que se casaram com suas irmãs, ajudou-a a criar suas filhas e seus filhos com dignidade, para serem pessoas de bem, e bem sucedidas.
Aquele homem faria muita falta: não havia apartamento algum que substituiria a sua companhia – especialmente a matinal, a primeira do dia.
Por isso, todos os dias, a última coisa que fazia era descer de elevador, até a área da piscina. Lá, encontrava duas cadeiras. As colocava lado a lado. Sentava em uma, esperando. Diferentemente dos “bons velhos tempos”, essa não era a primeira coisa que ela fazia no dia. Era a última. Porque a esperança é a última que morre. Aquelas cadeiras organizadas eram a esperança daquela velha senhora, de um dia ter seu velho companheiro sentando ao seu lado, para, se não um café, ter um jantar iluminado pela luz da lua.
Dedicado à misteriosa senhora das cadeiras.